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Globalismo, trabalho e o desafio democrático da inclusão social

Foto: Jason Goh.

André Oliveira & Rodolfo Marques são colunistas do Jornal de Toronto

Na icônica obra Why Nations Fail, de 2012, D. Acemoglu e J. Robinson concluem que uma das distinções cruciais entre países avançados e subdesenvolvidos reside na forma como as elites políticas integram, ou não, as populações aos ganhos do processo econômico produtivo. Entre esses ganhos, indubitavelmente, está a questão do direito ao trabalho e emprego.

Elites políticas avançadas realizam essa inclusão, elevando o capital social ao mesmo tempo em que criam ciclos virtuosos de crescimento econômico. De outro lado, há as elites predatórias – ou “extrativistas”, como chamam os autores – que se apropriam dos ganhos do processo produtivo sem preocupação relevante com a efetiva inclusão social. Talvez o exemplo mais emblemático de atuação recente de elite extrativista no Brasil tenha sido o do grupo liderado pelo então governador carioca Sérgio Cabral (MDB), agora réu confesso da apropriação indevida de recursos públicos. Enquanto o grupo político de Cabral promovia grandes saques ao dinheiro público, o Rio de Janeiro afundava em violência urbana e dívidas – o Rio é o Estado que mais deve à União (cerca de $39 bilhões de reais, segundo o relatório do Tesouro Nacional de setembro de 2018, dados da Agência Brasil).

Compatibilizar a inclusão social com o crescimento econômico sustentado é, sem dúvida, o maior desafio das democracias do tempo presente. Um problema subjacente a esse desafio está na integração dos países às cadeias produtivas da economia global, uma vez que se exige, cada vez mais, trabalhadores altamente qualificados que possam responder às inovações tecnológicas e/ou às complexidades das novas atividades dos setores de serviços e industriais.

Há, é claro, o recurso ao discurso nacionalista em contraposição ao globalismo como se observa do slogan “America First”, criando uma situação inusitada ao colocar a China (ainda) comunista na liderança da defesa do comércio mundial.

As celebrações do Dia do Trabalho, neste sempre importante 1º de maio, trazem reflexões consistentes sobre como integrar os trabalhadores aos ganhos econômicos produtivos da globalização. No caso do Brasil, se os cientistas políticos Marcus André Melo, Carlos Pereira e outros estiverem certos no livro Brazil in Transition, de 2016, a inclusão social – representada por programas como o “Bolsa Família” – tornou um dos consensos viabilizados pelas elites políticas brasileiras ao lado do respeito à responsabilidade fiscal. Podem não ser talvez condições suficientes para inserir o Brasil no grupo dos países ricos, mas são, decerto, necessárias para rumar nessa direção.

Portanto, entre acreditar que o copo está meio cheio ou meio vazio, por que não acreditar no primeiro? No Brasil de hoje, temos condições de avançar? Temos que priorizar mais a garantia de empregos ou dos direitos já conquistados?

São, de fato, algumas questões importantes que vem à tona sempre que datas como o Dia do Trabalho estão em nosso calendário.

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