Socorro Lustosa é terapeuta
Sabemos que o ser humano tem uma capacidade de superação fantástica, e que é capaz de enfrentar situações críticas adversas. Mas, infelizmente, isso nem sempre acontece no processo de imigração. Quando o processamento do chamado “luto migratório” não é adequado, e a capacidade de resposta do imigrante não está sendo suficiente na reorganização de sua personalidade, é desencadeada a chamada “Síndrome do Imigrante”, também conhecida como “Síndrome de Ulisses”.
O nome dessa síndrome foi inspirado no sofrimento de Ulisses, personagem da mitologia grega que, durante sua jornada de retorno para casa, teve de enfrentar a solidão, o medo e a tristeza… sentimentos muito semelhantes aos sintomas de quem imigra, e que agora são um problema de saúde emergente. O estudo desta síndrome tem sido realizado desde o início dos anos 2000, na Universidade de Barcelona, pelo psiquiatra e psicoterapeuta Dr. Joseba Achotegui, especialista em imigração e saúde mental.
Pessoas que sofrem desta síndrome podem desenvolver transtornos mentais e, mais frequentemente, o alcoolismo e a dependência química, caso haja evolução dos sintomas. E quais são os principais sintomas?
• Sensação de solidão: sensação de não ter um lugar ou pessoa que o acolha nos momentos mais difíceis, gerando seu isolamento;
• Sentimento profundo de tristeza: que, associado à tensão, medo e preocupações, provocam sentimentos de inadequação e inutilidade;
• Sentimentos de frustração: sensação de fracasso e ressentimentos gerados pela não realização dos planos, e pela incerteza do futuro;
• Desgastes físicos: como insônia, enxaqueca, falta de apetite ou ingestão excessiva, aparente envelhecimento e mudanças no estado de humor;
• Fadiga: cansaço excessivo que vem acompanhado de falta de concentração e problemas de memória.
Por ser ainda pouco conhecida – apesar de atingir muitos imigrantes –, esta síndrome pode ser confundida com depressão e transtorno pós-traumático, e ser tratada de maneira inapropriada. Seu tratamento requer fundamentalmente um acompanhamento terapêutico, para que as pessoas possam se expressar, processar melhor o que estão sentindo, e desenvolver habilidades para lidar com esses desafios.
Uma dica: O uso de técnicas de relaxamento e o exercício físico também são recomendados.
Ouça a entrevista com Socorro Lustosa no programa “Noites da CHIN – Brasil”, de José Francisco Schuster.