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Você já ouviu falar na Síndrome do Imigrante?

Ulisses, personagem da Odisseia, de Homero. Xilogravura do artista André de Miranda, no livro "Primas em Cordel" (editora Armazém da Cultura).

Socorro Lustosa é terapeuta

Sabemos que o ser humano tem uma capacidade de superação fantástica, e que é capaz de enfrentar situações críticas adversas. Mas, infelizmente, isso nem sempre acontece no processo de imigração. Quando o processamento do chamado “luto migratório” não é adequado, e a capacidade de resposta do imigrante não está sendo suficiente na reorganização de sua personalidade, é desencadeada a chamada “Síndrome do Imigrante”, também conhecida como “Síndrome de Ulisses”.

O nome dessa síndrome foi inspirado no sofrimento de Ulisses, personagem da mitologia grega que, durante sua jornada de retorno para casa, teve de enfrentar a solidão, o medo e a tristeza… sentimentos muito semelhantes aos sintomas de quem imigra, e que agora são um problema de saúde emergente. O estudo desta síndrome tem sido realizado desde o início dos anos 2000, na Universidade de Barcelona, pelo psiquiatra e psicoterapeuta Dr. Joseba Achotegui, especialista em imigração e saúde mental.

Pessoas que sofrem desta síndrome podem desenvolver transtornos mentais e, mais frequentemente, o alcoolismo e a dependência química, caso haja evolução dos sintomas. E quais são os principais sintomas?

• Sensação de solidão: sensação de não ter um lugar ou pessoa que o acolha nos momentos mais difíceis, gerando seu isolamento;

• Sentimento profundo de tristeza: que, associado à tensão, medo e preocupações, provocam sentimentos de inadequação e inutilidade;

• Sentimentos de frustração: sensação de fracasso e ressentimentos gerados pela não realização dos planos, e pela incerteza do futuro;

• Desgastes físicos: como insônia, enxaqueca, falta de apetite ou ingestão excessiva, aparente envelhecimento e mudanças no estado de humor;

• Fadiga: cansaço excessivo que vem acompanhado de falta de concentração e problemas de memória.

Por ser ainda pouco conhecida – apesar de atingir muitos imigrantes –, esta síndrome pode ser confundida com depressão e transtorno pós-traumático, e ser tratada de maneira inapropriada. Seu tratamento requer fundamentalmente um acompanhamento terapêutico, para que as pessoas possam se expressar, processar melhor o que estão sentindo, e desenvolver habilidades para lidar com esses desafios.

Uma dica: O uso de técnicas de relaxamento e o exercício físico também são recomendados.

Ouça a entrevista com Socorro Lustosa no programa “Noites da CHIN – Brasil”, de José Francisco Schuster.

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