… Está chegando mesmo?
Emma Sheppard é escritora e professora de inglês
Lembro-me claramente dos meus primeiros dias trabalhando numa escola de idiomas no Brasil. A cada momento uma nova lição, e mais um choque cultural – deixar os seus colegas te abraçar, deixar os seus alunos te chamar de “tia”, deixar as pessoas perguntarem qualquer coisa da sua vida… E uma coisa que ainda guardo na memória: o momento em que o “sinal” tocava para chamar os professores para subir para as salas. Eu, a gringa mais nervosa do mundo, subia cinco minutos antes do sinal, quase pulando quando finalmente chegava a hora. E os colegas? Lentamente arrumando livros, terminando conversas, ninguém correndo, ninguém nervoso.
E isso não é um julgamento, é um exemplo de um dos maiores desafios do processo de se acostumar com o novo país – como se adaptar a um novo ritmo, a novos padrões. Para me inserir no jeito brasileiro, eu tive que aprender a me acalmar um pouco – andar com menos pressa, não pedir desculpas por um atraso… E tive que aprender uma nova definição de uma frase muita usada: “Estou chegando”. Na minha vida, estar chegando é estar a cinco passos do destino, geralmente correndo, geralmente “atrasada” (3 minutos antes do horário marcado). Mas o “estou chegando” do brasileiro era uma mensagem mandada antes mesmo dele ter saído de casa, quando ainda nem tinha terminado de se arrumar!
Quando voltei ao Canadá, voltei para o “I’ll be right there”, faltando 5 minutos antes de chegar. Para muitas pessoas com quem eu trabalho aqui, o desafio é o inverso: Como chegar na hora, como saber se um compromisso ou evento brasileiro, marcado para o meio-dia, começará… ao meio-dia?
Mudar para um novo país não é só transplantar os seus jeitos numa nova terra, é também deixar o novo ambiente te afetar um pouco, e isso inclui observar melhor os horários – para considerar o “estou chegando” quando se está ainda em casa, e o “on my way” quando se está realmente a caminho, e como escolher entre os dois.
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