Brasileiros chegam aos 30 anos no Canadá sem teto

Ainda não temos um espaço fixo, um ponto de encontro da nossa comunidade.

Festa Julina, realizada na St. Anthony's Church; uma forma da comunidade se encontrar.

José Francisco Schuster é colunista do Jornal de Toronto

A comunidade brasileira no Canadá comemorou recentemente os 30 anos da chegada da primeira grande leva de imigrantes, que se juntaram a pioneiros que aqui já estavam há mais tempo. Foi uma festa linda, elegante e emocionante, recordando a coragem dos que aqui chegaram nos anos 80, muitas vezes sem referencial algum, enfrentando todos os desafios pelos quais passa um imigrante – sendo que naquela época a comunicação com o Brasil era muito mais difícil.

Na história das últimas três décadas, a comunidade tem vários feitos a comemorar, entre eles as festas de carnaval, de Réveillon, festas juninas, o BrazilFest, o Carassauga, a festa de Nossa Senhora Aparecida, o Café e Cultura, o Brazilian Day e numerosos grandes talentos nas artes, na música e na dança, em uma lista que seria imensa.

Fica um sabor amargo, entretanto, saber que nossa comunidade chega aos 30 anos sem teto, sem um ponto de encontro, sem um referencial para novos imigrantes, sem um espaço fixo para nossos artistas, para aulas de inglês, para reunir crianças e idosos. O CAIS (Centro de Apoio e Integração Social Brasil-Canadá), sucessor do Centro Brasil-Angola, e que era pelo menos um pontapé inicial neste sentido, fechou as portas. Eu mesmo participei de reunião anos atrás em que se buscava fundar algo, mas ninguém teve coragem de assinar o contrato de aluguel de um banquet hall desativado. Quando teremos nossa casa?

Se o espaço de tempo em que há um número significativo de brasileiros no Canadá ultrapassa uma geração, não há desculpa de que é preciso esperar mais. Os brasileiros têm que mostrar à própria sociedade canadense que não são um grupo nômade, como se estivessem aqui temporariamente ou sem intenção de criar raízes. Pelo contrário, se os brasileiros aportam de maneira significativa para a sociedade canadense, temos que ter uma cara, uma fachada física, num local onde podemos ser encontrados facilmente como instituição.

Ser imigrante não é renegar seu passado, suas raízes, sua identidade. Não temos do que nos envergonhar, porque, apesar de todos os problemas, o Brasil é muito bem visto pelos canadenses – que o reconhecem por suas belezas naturais ímpares, por sua economia pujante dentro do contexto mundial e pelo povo hospitaleiro e festivo. Só temos a ganhar nos unindo, mantendo nossas tradições, nossa cultura, apoiando-nos mutuamente e com projetos coordenados, onde a união faça a força. Sei que fácil não é, mas se imigrantes de países muito menores estão organizados no Canadá, por que um dos maiores países do mundo continua à margem?

 

Sobre José Francisco Schuster (80 artigos)
Com quase 40 anos de experiência como jornalista, Schuster atuou em grandes jornais, revistas, emissoras de rádio e TV no Brasil. Ao longo dos últimos 10 anos, tem produzido programas de rádio para a comunidade brasileira no Canadá, como o "Fala, Brasil" e o "Noites da CHIN - Brasil". Schuster agora comanda o programa "Fala Toronto", nos estúdios do Jornal de Toronto.

1 comentário em Brasileiros chegam aos 30 anos no Canadá sem teto

  1. Realmente seria maravilhoso que um projeto fosse feito neste seguimento de unir a nossa comunidade e mostrar nossa cultura para o mundo, sendo o Canada um país com imigrantes de varias nacionalidades.
    O que precisa pra este sonho acontecer?
    Como posso fazer parte?

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